o sol no meu rosto voltando da casa de C depois do primeiro beijo em pedaços rosáceos de nós iluminando as rodas da bicicleta que sonhavam ser tão circunlindas quanto a primeira pele em minhas mãos. a solidão dos trilhos do trem e o caminhar pelas despertas dormentes deixando o cheiro do mato invadir as narinas e o pensamento vagar todas histórias cantadas pelas pedras folhas rasgadas de revistas de cinema pedaços de madeira por onde o coração respirava. a sala de livros na casa do Professor Ivo lugar de natureza esconderijo transformado em lúdico suas involuntárias aulas de literatura preta lugar mágico e inalcançável pela violência e álcool praia salgada em fonemas com cheiro afeto de pai que não era meu único lugar em que a vida tinha permissão de caminhar. as alças do caixão de meu tio que covardemente nunca carreguei navegando num rio de ausência larga e despedida na contra margem afogado na culpa por entender ser o causar de sua morte incapaz do perceber que a vida laceia o tempo à revelia de nossas mãos certeza de não ser feito daquilo empurrado pela garganta a ser. o palco no Centro Cultural de São Paulo em meia luz alumiando meia vida alçada a morar no microfone incrivelmente seguro cercado por desconhecidos o corpo capital imposto através de socos, murros e derrames de desamparo dissolveu-se e foi enterrado no metrô Vergueiro lugar da pele rebentar e trocar de pele romper a rédea da doma rodopiar o chicote fenótipo da servidão paternalista no palco cimento pilar titânico do escrever. o fogão de minha avó transferindo sinapses lembranças na polenta com rabada e salada de agrião acendedores em metal preto de espessura secular cor branca das portas parecendo portinholas de um navio coberto de papilas de memória e seus artelhos surrealistas. as ruas de São Paulo que comeram meus sapatos lamberam meus trocados abraçaram meus medos ampliando-os na mesma medida deram força às minhas pernas ruas que me acordaram de sonhos com pesadelos aceleração coronariana em febre sugaram minha língua com saliva de algodão doce sanguinolento mantendo assim meu desejo vivo um tsunami comendo asfalto. não estava o amor de tantas bocas que sorveram pus trismegisticamente tornado-o bálsamo não estava o amor de tantos braços que me mostraram pelo meio do mundo um novo caminho tangerina não estavam A, F, A e P. nem eu ao menos estava.
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Adoro poesias que contam das lembranças.
Para não perder o costume, a união de palavras que me formou um sentimento: "ausência larga".