Existiu o encontro dos olhos, espaço entre as pálpebras do conhecer-se em demasia, descobrir segredos invariavelmente escondidos em céu aberto, ensopados em silencioso pânico. - Palpável esperança, porém... Nunca deixa de ser tremor, desamparo em choro na cadeira próxima à janela, Infinitos, intensos e irremediáveis por todas madrugadas chutes tornando-se autodefesa contra a morte certa. - Tremores anunciados tal qual deus exposto morto como montanha intransponível, como alma sem corpo, corpo sem cura. – Assim os olhos encontraram-se, revelando o despreparo para a vida, renúncia daquilo que jamais poderia acontecer. Do que poderia tornar-se real. outrora alegria, maior de todas um dia n’outra vida, por alguns segundos idílica, sem as cinzas úmidas dos pelos dentro d’água. Poluentes do tempo sem pretensão alguma em tornarem-se lendas revitalizando a ponta do horizonte! - O encontro, Pulsa. Clama amor-próprio em vida. / Dividido pelas horas atropeladas por aquele instante onde olhos colidem. Expõe um vazio nascido d’um sentimento restante morto, espalhado pelas arestas de dois corpos desatinados em números primos, normalidade delirante arremete disparada sobrevoa sanidade bombardeada no que restava destes dois corpos perdidos. Consumidos aflitos por convencionado amor, que a vida insiste em retirar do mundo desavisado. - O amor, seu resto de amor, o vômito do amor naquelas duas córneas que se encontram. O nada por entre os dias, renasce. Sobrevive contra todas as hipóteses, como um trator derrubando prédios. Ao fim era apenas o nada, tábua de salvação amarga. Fé insone em pleonasmos sobre não mudar o nada, como o nada jamais seria o antes. Contudo, como reviver o nada se o que acaba de passar é simplesmente o todo? A resolução, a reza, a surpresa, o fantasma atrás da porta, a tentativa certa e a frustrada, a alegria, a lágrima, o que se acaba sem morrer, as células em chamas, a febre de um braseiro no peito gritando seu nome, os cheiros dos vales por entre seu colo, a saliva fotografia dos sonhos formados por negativos inversos, o mesmo local de lógica cerebral, órbitas, resoluções, transeuntes espaçados por segundos incansáveis. O todo do mundo ali, naqueles olhos que se encontraram. Verticalizando o incerto nascer entre o céu e a terra, olhos atrás da nuca miram o impossível. – Nunca! Deixar um rastilho de pólvora e rancor sem palavras ou crânios abertos em paredes escaláveis, jamais será maior que dois corpos queimando suas almas no encontro entre dois olhos que nem ao menos se conheciam vivos.
Nota: Vez ou outra eu arrisco uma prosa poética no meu perfil do Letterboxd. Gosto de usar certas redes sociais de maneira a transgredir sua semântica. Por convicção do ofício, penso que a literatura é o cinema em fonemas e o cinema é a literatura em imagens. Não desloco nenhuma para caixas diferentes e sempre penso tanto prosa e poesia como planos, enquadramentos e cenas. Isso me ajuda tanto com a poesia tecnológica, como na escrita.
Longe de me tornar um crítico ou jornalista cultural, pois não tenho cacife intelectual para tanto, o objetivo no site de filmes é exercitar formas de escrita criativa ou escrever uma linha cômica absolutamente sem a menor graça.
Esta prosa poética já existia desde 2014, mas ao assistir Uma Nuvem no Quarto Dela, da diretora Zeng Lu Xinyuan, lembrei de como as linhas da escrita me recordavam as sensações que a protagonista Jin Jing passou. Tornou-se um dos meus filmes prediletos esse ano, pela capacidade de vagarosamente desnudar toda a complexidade dentro dela.
Como se as canções da banda Galaxie 500 estivessem em planos.
Nota 2: Como não sei o que fazer com o texto, ele ficará na aba “genérica”, sem fazer parte dos livros.
Fiquei com vontade de conhecer o filme. E gostei muito da sua prosa.
"Nunca deixa de ser tremor". Nunca. Nunca.